O patoense Luiz Carlos Vidal Fontes é pedagogo, tem 37 anos, e é cego de nascença. A patoense Silvânia Maria de Araújo Lucena também é pedagoga e especialista em Educação Infantil, tem 51 anos e, por conta de um erro médico passou a ter problemas na visão já na infância. Aos 23 anos de idade perdeu totalmente a visão. O curso de Pedagogia eles fizeram e concluíram juntos.
Eles estão casados há sete anos. Conheceram-se na Sala de Braille da Biblioteca Municipal, na época em que a biblioteca estava instalada na sede da Secretaria da Educação (hoje está instalada onde funcionou a Escola Irmã Benigna, no centro de Patos) e, de imediato, os dois começaram a perceber que gostavam de conversar um com o outro. “A voz, as atitudes, o carinho, a atenção, são coisas que nos atraem. Não temos a visão para vermos como é a pessoa fisicamente, como é o rosto dela, mas temos a sensibilidade para vermos como a pessoa é por dentro, e com Luiz Carlos foi assim, senti que existia algo mais forte entre nós, até começarmos a namorar”, disse Silvânia, no que é colaborado por Luiz Carlos: “É justamente isso, a atenção, o carinho, isso também foi o que me prendeu a ela”. Luiz Carlos ainda brinca com o assunto: “Foi amor à primeira vista”.
Os dois moram na Rua Peregrino de Araújo, no Bairro do Santo Antônio, e no dia 15 de maio completa sete anos de casados.
Eles brigam quando o assunto é futebol: ele é vascaíno e ela é botafoguense, mas futebol à parte, eles se ajudam muito. Fazem almoço, cuidam da casa e usam a internet. “Existe um software que auxilia deficientes visuais e leem os textos pra gente”, diz ele.
Eles não se incomodam de ser chamados de “cegos” pelas pessoas. “Por que a gente iria se incomodar com isso? Nós não somos cego mesmo?”, diz Silvânia. Já Luiz Carlos diz que é fundamental aceitar a realidade: “Aceitar a deficiência é fundamental para que a gente possa encarar a realidade com mais naturalidade e força de vontade”, diz ele.
O casal é engajado na luta dos portadores de necessidades especiais, realiza eventos em Patos, e conquistou o respeito de todos. Uma das lutas do casal é fazer com que a Biblioteca Municipal de Patos tenha mais opções de livros em Braille.
O marido nunca viu o rosto da esposa, a esposa nunca viu o rosto do marido, mas cada um diz que sente o outro pelo coração. A união dos dois desmente o ditado que diz que “quem vê cara não vê coração”. No caso caso deles é diferente: Não viram as caras, mas viram o coração.
Folha Patoense – folhapatoense@gmail.com