João de Carvalho, de 75 anos, e Dirce de Moraes Lima, de 90 anos, se casaram em Ribeirão Preto, SP — Foto: Francine Souza/Divulgação
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O clima de romance tomou conta do Lar Padre Euclides neste sábado (23) em Ribeirão Preto (SP). A noiva, Dirce de Moraes Lima, de 90 anos, disse sim ao pedido de casamento do aposentado João de Carvalho, de 75 anos. Há quatro meses, os dois começaram a namorar no asilo e deram ao coração a chance de escrever uma nova história de amor.

“Ela é minha companheira e peço a Deus que nos abençoe para que dê tudo certo. Sejamos felizes para sempre até que Deus permita”, diz o noivo.

“Ele é beijoqueiro. É o maior beijoqueiro que existe”, revela a noiva, aos risos.

Começo de namoro

Uma roupa rasgada foi o pretexto para o começo do namoro. Dirce é costureira de mão cheia, e desde quando chegou à instituição, em fevereiro deste ano, faz reparos para os amigos.

João precisou das habilidades dela e pediu que arrumasse uma blusa cheia de furos. Simpática, de imediato, a aposentada costurou e deixou a peça quase como nova.

No dia seguinte, João não pensou duas vezes e levou a bermuda para a idosa trocar o elástico. De favor em favor, a relação foi se estreitando. Os dois afirmam que o romance aconteceu naturalmente.

“Não houve pedido de namoro, simplesmente começamos a nos aproximar, com abraços e muitos beijos. A amizade virou paixão e depois, amor”, afirma João.

Vidas distintas

Antes da chegada ao Lar Padre Euclides, o casal percorreu caminhos diferentes. Mãe de duas filhas, Dirce só completou o quarto ano da escola. Casou-se cedo, aos 17 anos, em Jacareí (SP), mas ficou viúva do primeiro marido. Apaixonou-se por um advogado, se uniu a ele, mas o segundo companheiro morreu em um acidente de carro.

“Depois que fiquei viúva, comecei a trabalhar de domingo a domingo, para sustentar as minhas filhas. Eu tentei fazer o meu melhor para a minha família”, diz Dirce.

No entanto, após enfrentar problemas com as filhas, resolveu que era hora de ter o próprio canto e decidiu ir morar em uma casa de repouso. “Eu estava muito cansada e achei que deveria ter a minha própria segurança e liberdade”, afirma.

Já João foi casado por 30 anos com a mãe de seus três filhos, mas a relação chegou ao fim há 20 anos, quando eles se divorciaram.

Após a separação, ele chegou a morar com os pais, mas eles faleceram. A vida mudou e ele escolheu residir em uma instituição de acolhimento para idosos. Viveu durante um mês em uma entidade privada, mas não estava satisfeito.

“Aqui no Lar é diferente, pois eu nunca tinha morado em um ambiente assim. Eu posso sair a qualquer hora. Gosto de fazer as minhas próprias obrigações e adoro dormir tranquilo”, diz.

Os preparativos

Entre idas e vindas, os dois se encontraram. Quando começaram a namorar, fizeram questão de comunicar a direção do Lar e manifestaram a intenção de viver juntos, dividindo o mesmo quarto.

Com a notícia do romance, a assistente social da instituição, Beatriz Maria França, se reuniu com outros funcionários para providenciar os preparativos para o casamento.

A equipe organizou roupas, acessórios, decoração, o cardápio, a música e os convidados da festa. “Muitas pessoas foram solidárias e nos ajudaram com as doações. Os noivos ganharam até cama e colchão de casal. Fizemos tudo com amor e carinho para este casal apaixonado”, afirma.

O casamento

A cerimônia ecumênica foi realizada no galpão de confraternização do Lar. O local ganhou arranjos de flores, mesas e cadeiras especiais para o momento. “Nos conhecemos, moramos e vivemos aqui. Construímos amizades neste lugar e, por isso, resolvemos celebrar com quem nos ama e está sempre ao nosso lado”, afirma Dirce.

Quatro casais apadrinharam o casal – a maioria é formada por funcionários da instituição. Beatriz também foi uma das escolhidas.

“Eu sou como uma filha para a dona Dirce. É um carinho recíproco. Com este casamento, temos a certeza de que o amor não tem idade e que todos merecem ser amados e respeitados.”

O carinho dos funcionários pode ser visto até mesmo nos bonequinhos que enfeitaram o bolo de casamento, imitando os fios de cabelos brancos dos noivos.

Elegante, Dirce usou vestido de cetim e renda cor-de-rosa, sem véu, como faz questão de frisar. João usou terno com a gravata na cor do traje da noiva.

O aposentado é só carinho com a amada. Entre beijos e abraços, enaltece o jeito cuidadoso que Dirce tem com ele. “Ela é muito caprichosa, carinhosa. Às vezes, dá mais atenção para mim do que para ela mesma.”

Evangélica, a idosa acredita que Deus colocou o aposentado na vida dela como um presente. “Eu me apaixonei pelo João pela devoção que ele tem. Nós tivemos um empurrão divino.”

A troca de alianças emocionou os convidados. “Isso é muito bom para o casal. Nós vemos a importância do amor. Todo mundo pensa que é idoso, não pode ter namorado. Mas eles merecem ter um amor, sim”, diz Beatriz.

G1 SP

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