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Ninguém quer morrer jovem, o que é muito justificável. Mas a velhice cobra um alto preço de quem chega a uma idade mais avançada. Todo mundo sabe as perdas que sofre o idoso, o ancião e aquele que chega à velhice extrema. Aliás cada uma dessas fases é medida em anos. Quem tem de sessenta a setenta e cinco anos é idoso. De setenta e cinco a noventa é ancião. A partir dos noventa está em velhice extrema.

A maioria das perdas sofridas com envelhecimento é dolorosa. Seja do ponto de vista físico, seja do ponto de vista espiritual, seja do ponto de vista sentimental. Mas a meu ver uma das perdas mais dolorosas é a perda de parentes próximos e a de amigos.

A perda dos parentes próximos é a mais comum para o idoso. Mas a perda de amigos é muitas vezes mais dolorosa. A dos parentes é esperada, a gente vai se preparando para elas e termina sublinhando. A perda dos amigos, mais do que com o sangue comum, mexe com o coração. Isto quando é um amigo de verdade.

A reflexão me surgiu quando, ao tomar conhecimento da morte do meu velho e querido amigo Dr. Manoel Barros, me lembrei de dois outros amigos que perdi recentemente: Dinaldo Medeiros e Manoel Romão. Por coincidência em decorrência direta ou indiretamente da Covid-19.

Dinaldo era filho de velhos amigos meus, Dinamérico e dona Haidée. Irmão de um ex-aluno e velho amigo, Hermano Wanderley. E, quando ele ingressou na política e foi eleito para o primeiro mandato de prefeito, Edleuson Franco nos aproximou e passei a exercer uma assessoria de imprensa informal para ele, trabalho que executei até a sua morte em abril do ano passado.

Manoel Romão foi um companheiro de banco, uma amizade de mais de quarenta anos, apesar de nunca haver frequentado sua casa. Mas sempre que nos encontrávamos discutíamos os assuntos do trabalho e, depois, da aposentadoria comum.

Manoel Barros foi uma amizade múltipla. Como cliente da Farmácia de Clemente, fui atendido muitas vezes por Manoel Barros, que aplicava injeções e fazia curativos. Passei depois a ser seu cliente quando ingressou no ramo de farmácia. Manoel foi aluno meu no Colégio Roberto Simonsen, quando admirei seu amor pela leitura e sua vontade de aprender.

Como cliente seu, sempre conversávamos e quando soube que estava cursando Direito, parabenizei-o pelo progresso que fizera nos estudos. Na mesma época eu também estava cursando em Recife, onde trabalhava no CESEC do Banco do Brasil.

Ao terminar o curso de Direito em Recife e voltar para Patos em 1989, recebi o convite do Dr. Manoel Barros para trabalharmos juntos. Ele pôs à minha disposição uma das salas do escritório que havia instalado na rua Pedro Firmino, em frente à matriz da Farmácia dos Municípios.

Aí desenvolvemos um trabalho que foi uma extensão do curso que cada um de nós havíamos frequentado. Cada qual tinha seus clientes e ações e fazia suas consultas à legislação e da doutrina, mas sempre discutíamos sobre o processo de cada um, o que aumentava nosso conhecimento jurídico. Enquanto eu me dividia com as atividades no Banco do Brasil, Manoel tinha uma dedicação quase total ao estudo dos seus processos e se aprofundava muito mais do que eu. Mas o que aprendia dividia comigo.

A área em que mais trabalhávamos conjuntamente era na área criminal, quando envolvia a participação em júris. Durante os cinco anos que trabalhamos juntos, fizemos uns trinta júris, com mais vitórias do que derrotas. E vitórias são representadas tanto por absolvições como com uma amenização acentuada da pena ou das condições de cumprimento da pena.

Em 1994, resolvi ir para João Pessoa, participar de alguns concursos públicos, tendo como resultado a minha aprovação no fim daquele ano para a função de auditor fiscal do trabalho, no Ministério do Trabalho, o que determinou o encerramento da nossa parceria. Mas a amizade se aprofundara e continuamos amigos até o seu prematuro fim esta semana.

Manoel, meio que abandonara a administração das farmácias, entregues à experiência de dona Eulina, que ao par da administração da casa e da família, assumiu com a ajuda dos filhos, integralmente, a administração dos negócios. Mas Manoel continuou, praticamente até o encerramento do negócio, dividindo as atividades jurídicas com um trabalho que desenvolvia há anos. O atendimento aos clientes da Farmácia que, confiados na sua larga experiência, o consultavam sobre remédios e tratamentos. Os casos mais corriqueiros ele os resolvia. Nos demais casos ele encaminhava o cliente para o especialista que lhe parecia mais indicado.

No atendimento aos clientes, ele muitas vezes doava os medicamentos, àqueles que sabia mais carentes e que não tinham condições de comprá-los, razão pela qual era tratado por muitos como uma espécie de devoção. Havia até quem lhe atribuísse uma espécie de mediunidade, na maneira como encaminhava as pessoas para o tratamento mais adequado e cujos resultados era satisfatório. Ele não agia como médico, mas como orientador das pessoas.

Ao par das suas atividades de advogado e empresário, ele se dedicava, nas horas vagas, ao estudo da filosofia maçônica, sendo conceituado maçom, responsável pelo incentivo à fundação de várias lojas na região.

No estudo profundo da filosofia maçônica, Manoel Barros ganhou renome internacional, chegando a ser convidado para palestras e conferências, não só no Brasil, mas em outros países vizinhos. E a esta atividade se dedicou até alguns meses atrás.

Como havia abandonado as atividades jurídicas, passando o escritório para a filha Dra. Tatiana e o nosso antigo estagiário, Dr. Ariano Medeiros, nas nossas conversas eu sempre o aconselhava a voltar à advocacia, até como forma de continuar o contato com o público, o que seria muito bom para ele na idade idosa. Cheguei até a sonhar em voltarmos a trabalhar juntos, depois da minha recente aposentadoria. O destino não permitiu que esse sonho se concretizasse.

Manoel Barros era aquilo que se diz em inglês “self made man” (pessoa que se faz). De família pobre, começou trabalhando na farmácia de Dr. Basilio, depois foi trabalhar com o companheiro Clemente da Farmácia, quando este criou sua própria empresa. Posteriormente Manoel criou sua própria empresa, a Farmácia dos Municípios, que chegou a ter, salvo engano, doze estabelecimentos (matriz e onze filiais), a maior rede de farmácias locais que Patos conheceu até hoje. E, sem esquecermos este detalhe, continuou a ser a mesma pessoa simples que sempre foi. A concorrência de grandes redes de fora, muito mais capitalizadas e com condições de, com maior volume de compras cobrar preços menores, além da aposentadoria dos titulares, foram alguns dos fatores determinantes para o posterior encerramento das atividades do grupo.

Há quase dois meses foi internado, em uma clínica de Campina Grande, acometido da Covid-19. Ali tudo se fez para a recuperação da sua saúde. E, apesar da longa permanência internado em UTI, havia em seus familiares e amigos a esperança de sua recuperação, pois vinha mostrando sinais positivos neste sentido, fazendo acreditar até numa próxima alta. Entretanto, no início da semana, uma nova infecção bacteriana oportunista, aproveitando a sua debilidade orgânica, o acometeu, o que terminou determinando o seu óbito, na manhã deste domingo 24/01, apesar dos esforços da equipe que o assistia.

Sua morte deixou desolados, familiares e amigos, o que foi refletido nas manifestações feitas nas redes sociais e imprensa.

Por conta do histórico de acometimento pela Covid-19, apesar de ter sido considerado curado, houve recomendações médicas para que não se fizesse velório nem sepultado com presença de público. O carro fúnebre passou rapidamente pela Loja Maçônica Dionísio da Costa de que fora fundador e participante, onde recebeu uma rápida homenagem dos irmãos maçons e foi levado para o São Miguel, onde foi sepultado, por volta das vinte horas deste domingo, 24 de janeiro.

Manoel Barros da Cruz, morreu aos 77 anos, deixando viúva, dona Eulina Ana Barreto Barros, companheira e suporte moral e material de toda uma vida, e seis filhos: Talita, Tatiana, Theudas, Tibério, Tamara e Tarsila. A todos eles e aos demais familiares as nossas condolências.

Luiz Gonzaga Lima de Morais

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