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A indústria da música atual prescinde totalmente do encarte. Num corte seco, eliminou-o totalmente de seus processos de produção. Não adianta chorar, afinal, até os próprios suportes de veiculação musical, caducaram. Após longo império, o vinil deu lugar ao CD e, este, anda a não ser mais objeto de desejo dos cantantes. Por outro lado, convenhamos, a própria natureza do fazer musical anda a experimentar por deformações.

Por ontem, o encarte, peça informativa que acompanhava os LP’s era fundamental para tomarmos contato com a letra “exata” da música, saber o nome dos compositores, dos músicos atuantes nas gravações, dos instrumentos utilizados em cada faixa para execução dos arranjos. Ademais, ficava-se a par dos responsáveis pelos respectivos arranjos, da graça dos produtores e técnicos e

outras curiosidades afins. Viemos de uma geração que cresceu musicalmente, com eles.

Alguns ainda traziam uma espécie de editorial com a apresentação do artista, balanço de sua carreira, apreciação do repertório presente no opúsculo.  Bons tempos. Para mim e muitos, o encarte era uma fonte de informação. Um apêndice de luxo. A apreciação da “arte do artista” ganhava em robustez com as informações trazidas pelo encarte. Até para as moçoilas, que curtiam “estampas” das estrelas que “ilustrar” as paredes de  seus quartos, estavam bem servidas. Os encartes eram ricamente ilustrados com artes referenciais e fotos dos ídolos de então.

Na atualidade, as informações sobre a artesania musical soam dispersas e limitadíssimas. Não se faculta mais aos aficionados pela música um arsenal suficiente de municiá-lo na melhoria do seu arsenal cultural. Talvez até porque isso não importe mais, não é mesmo? Há outros valores em curso por aí; lugar onde vale mais a milhões amealhado em shows que o conteúdo poético/musical veiculado.

Por esses dias valem mais a projeção midiática das figurinhas, cantem ou não, ou a introdução de vinhetas no meio da execução para lembrar ao apreciador passageiro do nome da banda (espécie de aglomerado de músicos), a estrela ou algum tocador que se destaque, de preferência aquele “virtuose” que encarna o coração da banda ou o gênero que ela defende.

Os encartes eram objetos cobiçados pelos apreciadores da arte musical. Ao ato de ouvir a canção prensada, era comum estender o território para abranger áreas mais técnicas da produção, sendo, ou não, músico, historiador ou crítico militante.

Pego-me até mesmo lembrando de episódios de roubo, isso mesmo que você leu, roubo de encartes das lojas de sebo. Encartes eram uma espécie de item colecionável, uma peça líterocomunicativa que suplantava a simples ideia de propaganda da música e seus artífices. Sua extinção sumária nos leva a pensar em “fim de era”. Um tempo chegou ao fim e levou de arrastão uma mania saudável de ouviver, cultuar fazedores, construir e alimentar uma afetiva memória em torno da criação musical.

Por Edson de França 

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