Preciso readquirir o hábito de ler. Andei o perdendo no dia em que me descobri preguiçoso para encarar obras mais densas. Passei de hora a outra a me contentar com livros de bolso e todo tipo de “literatura ligeira” que me caísse em mãos. Absolutamente cômodo. Acomodei-me aos “insights” vivazes da linguagem direta, classificando como tediosa e enfadonha a leitura mais pesada. Até os contos mais longos expurgar do convívio. Voltar a me deleitar com a leitura é a letra A dos planos do ano que se inicia.
Meu vizinho, providencialmente dono de bar, começou a me auxiliar. Após realizar dois lançamentos literários em seu terreiro, digo, bar multicultural, emprestou-me as obras lançadas. Sem compromisso de fazer release de lançamento ou resenha sobre tais, as levei para casa e pus no “banho maria”. Aguardava o momento em que as abriria, tocado talvez pelo ardente intuito de concluí-las. Devo dizer em tom de mea culpa que mantenho entre meus pertences, obras que abri, cheirei, iniciei leitura, dormi em algumas sessões, dei mão a um marcador de textos e as larguei a um canto, limitadas a mudez das letras impressas.
No último dia 02 devorei em questão de horas o primeiro dos livros emprestados. Grato a Juliano, o amigo, e ao autor Roberto Menezes pela possibilidade de adentrar ao mundo do que se anda produzindo em termos de boa literatura paraibana. Hoje, 04/01, concluí “As madrinhas da Rua do Sol”, de João Martins. Obras relativamente curtas, mas com a densidade necessária para recuperar “das trevas” um leitor desviado. Falei curtas, mas não redutíveis, são portais generosos para múltiplas percepções e convites abertos a releituras inúmeras.
Iniciei bem o ano. Em seguida, como providenciais providências, dei alta (temporária, devo dizer) para as redes sociais. Não preciso ter que a cada 05 segundos ficar conferindo o que os “amigos”, estrelosos ou a última beldade fez em suas existências. Desculpem-me os bem intencionados como eu próprio que, vez ou outra, comete o exagero de uma foto praiana, uma agressividade política ou um chiste humorístico. A atenção contumaz aos lampejos e atualizações das redes interrompe o processo natural da leitura. É impossível concluir parágrafos com a concorrência desleal das telas.
Somos párias bem intencionados, periferia na rede das ostentações para exibidos mal intencionados bem financiados, carreiristas políticos e toda uma fauna de exibidos úteis e gratuitos. Não preciso andar conferindo seus progressos ou “status” atual. Não me importam. Caso concluam suas jornadas em terra, a “patrulha da província” ou o plantão do JN nos darão de conta. Não hei de conferir apenas pela desatualização de seus storys.
Como disse no início, preciso readquirir o hábito de ler. Penso, ao menos no meu caso de sobrevivente do império analógico, ser fundamental como ato cultural e entretenimento. Não tenho cacife acadêmico para afirmar peremptoriamente que seja uma prática saudável para o povo de hoje. O que sei exatamente é que não é doentio. De forma alguma. Pode ajudar a muitos a interpretar melhor o mundo. A leitura me fez escritor, menor, mas escritor. Coisa que prezo.
Até os gibis, não nego nem sob tortura, me ajudaram nesse processo. Foram escadas, levaram do básico às leituras apenas de palavras. Sou um apaixonado por todos esses processos, enfim, só quero a partir de hoje incorporar a “devoração” de páginas ao meu habitué diário. Quero ser traça de letras, palavras, ideias, contextos, enredos, imaginação e dessa impressão de que, pela leitura, somos definitivamente donos de infindáveis universos. De fato.
Por Edson de França