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Damião Lucena é um jornalista, historiador, escritor, compositor e ativista cultural da cidade de Patos. Pesquisador incansável, Lucena tem uma produção profícua. Ele é autor, por exemplo, do monumental “Patos de Todos os Tempos”, um livro de 1064 páginas, que conta a história de Patos e é resultado de mais de 30 anos de pesquisa – o livro ganhou recentemente uma segunda caprichada edição, em dois volumes, obra depois que recebeu o apoio da Lei Aldir Blanc.

Na última vez em que estive em Patos, tive a honra de conhecer pessoalmente Damião Lucena, que me deu a honra de sua presença em um evento que debateu meu livro “Ulisses e o fogo olímpico”. A primeira impressão sobre o interlocutor foi a de um amante ardoroso de sua cidade natal, que também é a minha. A segunda, foi a de uma genuína preocupação intelectual com a preservação da cultura e da história patoenses.

Numa tarde de sexta-feira, ele recebeu a mim e à professora de Literatura, Klítia Cimene, na Garagem Cultural, um museu de imagens e objetos de interesse histórico e cultural, criado por Lucena, e que só existe por conta de sua dedicada teimosia à causa que abraçou com paixão. Lá, percorremos a história da cidade, contada por meio de fotos, objetos de interesse histórico, mosaicos, recortes de jornal, a história da urbanização, dos lugares, das edificações, de uma Patos que não existe mais. A história das instituições, com grande destaque para a igreja católica, mas não só: registro dos protestantes, dos espíritas, da umbanda. A história do futebol, da educação. A materialidade de uma cultura que resiste e pode ainda ser conhecida, apresentada ali, a quem se interesse por ela.

Quando encerramos nossa pequena incursão pela Garagem — a designação foi herdada do antigo espaço que Lucena usava para guardar automóveis, — perguntei se ele recebia algum tipo de apoio para mantê-la em funcionamento. A resposta foi previsível, mas, ainda sim, chocante: “nenhum apoio”. Apoio nenhum da prefeitura de Patos.

E eu fiquei a me perguntar: até quando? Até quando pessoas como Damião Lucena resistirão, manter-se-ão firmes e solitários numa luta que não é só delas? Sim, porque, como um legítimo Dom Quixote, que enfrenta, quase sozinho, os moinhos de vento de uma luta inglória para cultivar e preservar a história do seu povo, ele é deixado à própria sorte por quem deveria incentivar suas iniciativas, apoiando-as: o poder público, especialmente, a Prefeitura de Patos.

E Damião não cansa de cantar seu amor por Patos. Na entrada da Garagem Cultural, ele recebe cada visitante com o primeiro verso do hino da cidade, registrado em letras de azulejo: “Patos, te amo Patos”. Porém, o amor que nosso tão dedicado D. Quixote tem por sua Dulcineia, nesse caso, a nem um pouco imaginária Patos, não é correspondido. E a cidade de Patos, certamente, não está sozinha quando o assunto é falta de apoio aos cidadãos que lutam tanto por defender e preservar suas memórias.

No mês de junho, quando o assunto é cultura, as prioridades se evidenciam. É quando fica claro que a política cultural dos municípios, quando existe, se reduz à promoção de eventos. Ou seja, nesses tempos culturalmente inóspitos, quando as festas juninas, que cultivam a mais genuína das nossas tradições, sobretudo nos sertões nordestinos, estão sendo transformadas em espetáculos desterritorializados, desenraizados, destinados a reunir multidões amorfas, em busca da celebridade musical da vez, que, em geral, pouco tem a ver com o forró. Em breve, o São João no Nordeste será associado apenas a uma data no calendário, sem mais significado. O que tão dramático quanto sintomático: tudo financiado com dinheiro público, que, para esses eventos, não faltam recursos.

O trabalho que o Damião Lucena realiza em Patos é inspirador, e, por isso mesmo, merece que a Prefeitura de Patos o apoie.

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