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Sucumbi à tentação de escrever sobre eleição e voto. Resisti aos impulsos contrários e a total falta de “assunto novo” sobre a temática em si. Não sendo especialista ou interessado de primeira hora na matéria, creia-me, é difícil empilhar duas ou três ideias coerentes sobre a mesma.

Acho que não estou além da consciência da maioria dos cidadãos instados a participar do “espetáculo” da democracia. Aceito tacitamente o discurso que destaca a importância do processo. Participação  meio “acabrestada”, por ser obrigatória,  e não facultativa como queria uma galera que pulula por aí..

A diferença entre mim e essa maioria protestante (podem me chamar de ingênuo) é que acredito (com toda desconfiança que me cabe) nos efeitos do processo. Pode (é?) se tratar de uma participação mínima, uma figuração desimportante no corpo complexo do enredo eleitoral. Mas, quero crer, bem pior se não a tivéssemos.

O voto é uma conquista cidadã. Seus efeitos finais, uma parcela de nossa consciência, nível de participação e conhecimento da realidade do país e, sobretudo, de cada lugar que ocupamos nele.

Por outro lado, quero acreditar, de cara, na lisura do processo. E a não ser que algo de muito suspeito instale dúvidas em minha cabeça, continuo a defendê-lo. É impossível perfilar ao lado da quem, p.e., fez carreira na política, em sucessivos mandatos, e questiona os métodos do pleito.

Identifico nestes tão só o desejo (i)legítimo de causar tumulto, guiados por fantasiosas teorias conspiratórias e ânsias totalitárias. Há algo de doentio nessa postura. O desenho de suas mentes tende a revelar uma visão limitada do mundo e, sobretudo, a pouca disposição para o diálogo e análise do pensamento discordante. Numa palavra, pessoas que veem o mundo cinza.

Não precisa entender profundamente de política, para identificar a importância do processo eleitoras na vida da cidade e da população. Não dá para, em ato blasé,  negligenciá-la. Andar por aí exibindo atestado de “isentâo” é, na realidade, uma forma egoísta de virar as costas para a coletividade, pondo suspeição a qualquer façanha societária em que o elemento venha a se meter.

Críticar é preciso, abster-se é factível (às vezes, é certo, faltam alternativas dentre as caras elegíveis) mas, antes de tudo, é necessário ter em mente qual seria a alternativa possível para a atual escolha de gestores e parlamentares. Se há alguma, genial, lute por ela. Quem sabe, elegendo-se. Essa é direto do capítulo das ironias do processo eleitoral.

Nos últimos anos muito se falou sobre a “demonização” da política, marcha insana com o fito de desacreditá-la e regular políticos de todas as matrizes pela medida da inutilidade e da corrupção. O mundo político convenhamos não ser o mais transparente, mas é da relação entre escolha, fiscalização e cobrança que o processo se torna imprescindível.

Te tornas definitivamente responsável pelo político que eleges. É frase pronta, clichê, mas está valendo. Cada povo tem os representantes que merece também. Pelo voto mínimo, sazonal, se faz a cidadania. Se constitui o processo democrático.

Estar no mundo é interagir e essa interação dá-se basicamente por meio da informação e informação é insumo básico do processo democrático. Se a mentalidade média se alimentar da ideia que vai às urnas apenas para cumprir um dever, é preciso repensar. Se o indivíduo sai de casa, rindo ironicamente, a dizer que vai apenas “dar um emprego” a um alguém durante 4 anos, nosso conhecimento e nível de informação anda a capengar.

A municipalidade é a instância imediatamente superior à casa que você habita. Assim como você observa os detalhes de manutenção de seu lugar, é necessário pensar a cidade – sua estrutura, seus códigos de postura, a qualidade dos serviços, a aplicação e propostas de políticas públicas – e as pessoas com quem convivemos.. Não é pouco. E tudo começa com um voto.

O ato de votar dá início a um ciclo de decisões que vão interferir no cotidiano da cidade e dos cidadãos. Por isso, a participação, a atenção às escolhas e, ao longo de um período de gestão, a fiscalização das atuações de gestores e parlamentares deve dar a medida do nível de consciência que andamos por aí usando. Pegar o título e ir ao local de votação é só o primeiro ato de estar a fazer o que será.

por Edson de França

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