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Alguns ousam classificar como amor. Amor à camisa, ao manto sagrado, à esquadra atual que os representa, aos registros,  ano a ano, de feitos e conquistas heróicos, aos heróis dos títulos épicos. Tudo  besteira. O amor mais verdadeiro mora no peito dos resignados, dos tolerantes, dos pacíficos, dos que entendem a circularidade da vida. Dos que sabem ganhar e perder.

Os que inflam as narinas, estufam o peito e se armam para briga não são adeptos do amor. São amantes da horda, da balbúrdia, da insanidade, do ódio e, numa escala mais agravante, do homicídio, da eliminação do outro. Da barbárie, enfim. No adversário, eles só enxergam o inimigo de sangue. Suas consciências são incapazes de refrear seus instintos primários. Também parece não haver forças externas capazes de dissuadi-los.

Partem para o confronto cego como feras ensandecidas. Só que,  diferentemente das feras naturais, cujo instinto de morte demanda dos chamados inadiáveis da sobrevivência, aqueles lá – chamados genericamente de “torcedores organizados” – atendem a uma outra lógica: a da sensação de frustração, da impotência, da falha total como ser humano.

São seres insatisfeitos até consigo mesmos. Numa palavra, mal resolvidos. Prenhes de problemas psicológicos dificílimos de contornar ou de curar. Numa turba selvagem qualquer um, frustrado e covarde, tem condições de extravasar, praticar a maldade que o habita e gozar, com alguma sorte, do beneplácito do anonimato.

Até hoje ninguém localizou a mão (ou mãos) que matou um torcedor com um vaso sanitário em Recife, após uma partida desse mesmo Santa Cruz que protagonizou a confusão no sábado (01/02/2025). O assassino – essa é a palavra que o define – jamais se denunciou e, por onde andar, pode muito bem posar de cidadão de bem, patriota, temente a deus e outras leseiras mais que marcam a identidade de um homem imaculado.

Caso fosse traçado traçado um perfil individualizado desses senhores (e senhoras) facilmente seriam identificados traços, dizem os estudos, dos “transtornos mentais maiores”. Expressão traduzida do inglês que se refere a transtornos mentais graves, como esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão maior e transtorno delirante.

Ousaríamos incluir também neste rol, mesmo não sendo especialistas, as sociopatologias afetivas. A total falta de amor, de respeito e de outros ingredientes básicos da convivência, que vem a definir estágios minimamente avançados de civilização. O futebol, por acaso, é veículo despertador da insanidade? Serviria o esporte de milhões como um catalisador de instintos assassinos?

Ficam os questionamentos. Ficam os fatos registrados. Fica o medo do cidadão comum em frequentar os estádios. Fica, enfim, o espanto da população em geral sobre eventos inaceitáveis. Objetivamente, na parte atlética, o futebol se resume ao que acontece na arena. Fora dele, porém, se desenrolam outros cordéis.

A partir da arbitragem, a cargo das Federações, até às Bets, sites de apostas, tudo envolve valores monetários e manipulação das paixões. As torcidas, correndo por fora, também entram no jogo, sendo patrocinadas e organizando-se em grupos de apoio às equipes e, pelo que se vê, em quadrilhas de arruaceiros.

Não é portanto apenas o “amor ao clube” que justifica os movimentos de rua. O rastro de destruição que eles deixam são denotativos de desajustamento e incompreensão do básico do esporte: o desempenho e a conquista  demanda da existência do outro. O embate só é justificável com o qualificativo do outro exercer o direito à torcida, à escolha de um lado e, sobretudo, o direito democratico de defender suas cores, sem medo da exposição e dos riscos à integridade fisica.

 Por Edson de França

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