Leandro fazia a segunda voz na dupla com o irmão, mas cantava músicas solo e era destaque entre as segundas vozes do Brasil (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
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Brincalhão com os amigos, mas tímido com os fãs, o sertanejo Leandro começou a carreira de cantor na plantação de tomate dos pais, em Goianápolis, a 47 km da capital. Ele e o irmão Leonardo cantavam desde pequenos e fizeram uma história de sucesso na música brasileira durante 15 anos. A trajetória da dupla foi interrompida por um câncer raro que levou Leandro à morte aos 36 anos, em 23 de junho de 1998, em São Paulo.

O G1 publica esta semana série de reportagens especiais sobre os 20 anos da morte de Leandro.

Luiz José da Costa, como foi batizado, nasceu em 15 de agosto de 1961 e foi criado com os outros sete irmãos na cidade do interior. A cidade é conhecida como a capital brasileira do tomate. O cantor é descrito por pessoas próximas como um homem de hábitos simples, extrovertido com os íntimos e muito reservado com quem ainda não conhecia.

Na época de menino, ele e Emival Eterno da Costa, que viria a ser sua dupla com o nome artístico de Leonardo, já ouviam os ídolos Chitãozinho e Xororó e recebiamo incentivo do pai, o lavrador Avelino Virgulino da Costa, que estava sempre acompanhado de um violão.

A Escola Estadual Joaquim Soares da Silva, onde Leandro estudou, em Goianápolis, guarda até hoje a ficha com detalhes da vida de estudante dele. No colégio, o sertanejo se destacava nas aulas de história, mas não tanto em matemática.

Pescaria e baralho

Amigos lembram que quando não estava com um violão, Leandro tinha gostos simples, como pescar e jogar baralho. Ele torcia para o São Paulo, mas gostava mesmo era de Copa do Mundo. No entanto, mesmo para quem o conhecia, as principais memórias são relacionadas à música.

“Eu trabalhei com eles [Leandro e Leonardo], fomos criados todos juntos. Eu me lembro que eles começavam a cantar. Cantavam o dia inteiro músicas do Milionário e José Rico, do Zezé di Camargo. Depois foram tocar em bailes”, lembra o horticultor Valdeci de Jesus, de 54 anos.

Música e política

Além do sonho de ser cantor, Leandro queria também entrar para a política. “Ele falava muito que queria cantar até os 50 anos e que, depois, pararia e se candidataria a senador pelo estado de Goiás”, como recorda o também horticultor Jair de Sousa Leite.

Para se dedicar à carreira, os irmãos se mudaram para Goiânia, conseguiram trabalhos para se sustentar na capital enquanto passavam todo o tempo livre nos ensaios.

Leandro e Leonardo

Com ajuda de um tio e do patrão do Leonardo, a dupla passou a investir na carreira com apresentações pequenas e que não rendiam muito dinheiro. Na época, eles escolheram o nome da dupla ao saberem de gêmeos de um colega de trabalho que haviam sido batizados como Leandro e Leonardo.

Mesmo com dificuldades financeiras, a dupla lançou o primeiro disco em 1984 e vendia os exemplares nos bares onde se apresentava. Os irmãos começaram a ficar conhecidos dois anos depois, com a gravação da música Contradições, mas o estouro ocorreu em 1989 no lançamento da canção Entre Tapas e Beijos.

No ano seguinte, Leandro e Leonardo gravaram a música que mais projetou a carreira da dupla: Pense em Mim. A música foi escrita pelos pintores Mário Soares, Douglas Maio e José Ribeiro. A canção começou a ser criada com uma batida de reggae, depois migrou para o estilo country antes de ser gravada como sertanejo.

Depois do sucesso, a dupla ganhou projeção nacional, mas manteve a personalidade que os familiares e amigos conheciam desde a infância.

Assessora da dupla desde o início da carreira, Ede Cury lembra que Leandro era muito brincalhão com quem tinha intimidade. No entanto, para os palcos e para se relacionar com os fãs, era muito tímido.

Nos 15 anos que fez dupla com o irmão, ela conta que Leandro sempre precisou de um “incentivo” para encarar as multidões.

Segunda voz

Apesar da timidez, depois que subia no palco, Leandro encantava. Os artistas afirmam que o cantor era dono de uma das mais belas segundas vozes da música brasileira. Outros “segundeiros” contam que se inspiram até hoje no jeito dele de cantar.

O sertanejo chamava a atenção nas apresentações e até cantava algumas canções sozinho.

O câncer

No auge da carreira, em 1998, Leandro foi passar uns dias com amigos em sua fazenda no Tocantins e se queixou de dores no peito. Depois de uma semana, durante uma visita à cidade natal, o cantor voltou a se sentir mal durante um jogo de truco.

Preocupado com a saúde, ele foi atrás de saber o que era e, em 21 de abril daquele ano, Leandro recebeu o diagnóstico de tumor de Askin. Segundo a família, na época, ele era o sexto caso da doença, em adultos, no mundo. O cantor, então, foi para São Paulo, onde passou pelo tratamento.

Durante um dos jogos do Brasil na Copa de 1998, que Leandro acompanhava do apartamento na capital paulista, ele pediu à assessora Ede Cury uma bandeira. Durante um programa Domingão do Faustão, ela conta que o levou um manto verde e amarelo que tinha em casa porque não teria como comprar uma bandeira na rua e entregar a ele sem esterilizar.

Momentos depois, ele apareceu na sacada, já careca e envolto no tecido.

O adeus a Leandro

No dia 23 de junho de 1998, quando os brasileiros se preparavam para assistir à seleção brasileira enfrentar a Noruega, pela Copa do Mundo, na França, foi divulgada a notícia da morte do cantor. O Brasil parou para acompanhar o despedida do ídolo, que, após uma semana internado, não resistiu ao tumor.

G1

 

 

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